Interpretando as decisões em diversas situações: os regimes de justificação

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Para ficarem de acordo sobre aquilo que é justo, as pessoas devem reconhecer um bem comum (Boltanski, Thévenot, 1991:183). Em ordens legítimas, as pessoas compartilham uma humanidade comum expressa numa capacidade comum de ascender ao bem comum. No universo escolar esta humanidade comum expressa-se na igualdade de direitos entre os seres, e noutros que não serão aqui referidos em função dos limites do artigo. O importante é sublinhar que o constrangimento dos actores a ordens legítimas permite agrupar as “normas práticas” em regimes de justificação onde os próprios explicitam as suas actividades.
É obviamente significativo que todos os autores se refiram às ciências da educação, no plural, porque o seu corpo de conhecimentos não se encontra suficientemente estruturado para que constitua uma ciência. As teorias que difundem, são tanto mais consideradas úteis pelos professores, quanto estes nelas revejam orientações práticas, que possam transpor facilmente para as suas actividades escolares, caso contrário serão ignoradas. Seleccionei o Conectivismo como teoria de aprendizagem para interpretar os cenários pedagógicos em que são utilizados blogues porque esta me parece mais actualizada em função do desenvolvimento tecnológico, e portanto com maior utilidade prática. Por imposição das suas necessidades práticas, sucede até o aspecto curioso – constatado no fórum do Moodle – de os docentes adoptarem o “Conectivismo” no seu quotidiano muito antes de conhecerem a sua designação. O reconhecimento de que os actores adoptam regras práticas não inviabiliza o seu estudo porque estes obedecem a regras, seguem modelos e respondem a expectativas. Nas suas actividades pode-se sempre detectar uma certa ordem, que resulta do facto de os intervenientes se reconhecerem em determinados modelos. Neste trabalho são imaginados[1] dois modelos para compreender o entendimento professoral na selecção das tecnologias.  Associados ao Conectivismo, permitirão perspectivar coerentemente as referências que os professores tomam, como pensam, os juízos que fazem, interpretar as suas decisões no contexto das suas acções.
“Para ser válida, a selecção dos diferentes cenários pedagógicos e/ou do design instrucional deve repousar sobre critérios justos, de saberes legítimos e ser levada a efeito em condições de relação entre o designer e os aprendentes que correspondam às relações normais entre os professores e os alunos. É este o momento fundamental sobre o qual se fixa o trabalho de denunciação, que se concentra frequentemente sobre a precisão do dispositivo de prova” (Derouet, 1992:83, remix para o tema). Daqui decorre o meu método de trabalho: irei utilizar a blogosfera para escutar o que alunos e professores disseram sobre as suas experiências de utilização de blogues educativos, verificando em que medida correspondem às expectativas da teoria de aprendizagem, e testando o contributo dos regimes de justificação para um melhor entendimento dos percursos pedagógicos mediados por blogues. Definem-se abaixo os dois regimes de justificação, partindo de diferentes concepções da criança.


[1] Num trabalho mais desenvolvido os regimes de justificação deveriam ser construídos tendo em conta a especificidade do objecto de estudo. Refiro-me a dois modelos imaginados porque irei transpor para a selecção de tecnologias os dois regimes de justificação que se revelaram mais pertinentes para o entendimento professoral da avaliação, num mestrado anterior.    

 

Written by José Neto. Powered by Novos Templates para o Blogger