Regime de justificação doméstica: As crianças como pessoas

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Também se pode entender a infância como uma fase em que a criança é um embrião de uma pessoa que, para se desenvolver globalmente, necessita do afecto dos que a rodeiam. Uma espécie de flor na qual o jardineiro não precisa de tocar, pois bastará proporcionar-lhe um ambiente favorável ao seu próprio desenvolvimento. Esta perspectiva conduz ao regime de justificação doméstica.  A pedagogia centrar-se-á então na própria criança, promovendo a sua integração no meio.
O princípio organizador é o calor comunitário,  a confiança, a proximidade entre os seres. Pode-se dizer que, através da escola, se estende à política o modo de organização da família, o que cria uma ambiguidade entre o domínio da escola e o domínio da família. A escola tem o dever de possibilitar às crianças o acesso ao conhecimento universal amplamente alargado pela Internet e pela Globalização, independentemente da sua origem familiar.  Nesta perspectiva toma-os como adultos virtuais, cidadãos virtuais livres do seu quadro familiar, e então, independentemente das crenças dominantes nos seus lares, a escola tem o dever de dotar a criança com saberes puramente racionais que lhe permitirão, mais tarde, fazer as suas próprias escolhas nos diversos domínios. Por outro lado, a escola tem o dever de ensinar às crianças os conhecimentos humanos tendo em conta as relações que as ligam ao lar familiar,  como não-adultos que são, ainda envolvidos pelos laços espirituais da família. A escola tem consequentemente que dotar a criança de conhecimentos racionais inspirados nas crenças fundamentais, filosóficas ou religiosas, encontradas nos respectivos lares, ou que pelo menos não se lhes oponham. São duas concepções de escola, a primeira privilegiando o Mundo, a segunda partindo da família como elemento básico da sociedade. Em qualquer dos casos, a concepção pedagógica da justificação doméstica visa uma educação global: a formação do carácter. Esta formação não resulta de um produto analítico e despersonalizado, mas de uma impregnação que tanto passa por produções pessoais como pela inteligência (Derouet, 1992:101).
A padronização típica dos testes – instrumento de avaliação privilegiado pelo mundo industrial – é denunciada pela justificação doméstica, que advoga a realização de deveres por sujeitos livres. A diversificação dos trabalhos de avaliação permite a adaptação destas tarefas aos problemas concretos, com maior interesse para os alunos que os exercícios abstractos. O blogue - pela facilidade de utilização e pelas potencialidades de integração de outras aplicações - é a ferramenta tecnológica que mais facilmente permite aos estudantes ampliarem o ambiente de trabalho do seu computador a toda a Internet, sendo naturalmente escolhido por todos os que pretendem colocar em prática o Conectivismo.  
O maior problema da adopção de blogues resulta da impossibilidade de aplicar critérios de classificação comuns a estas produções, com criatividade muito variável. Também o trabalho de grupo é preferido ao individual, porque dilui as diferenças de desempenho e desenvolve as qualidades humanas de cooperação e entreajuda (ibidem), dificultando novamente a avaliação individual. O blogue não apresenta a pretensão de precisão dos testes. Genericamente, a avaliação proposta pela justificação doméstica será de natureza globalizante e qualitativa,  apresentando maior dificuldade em expressar-se na escala de 0 a 20, relativamente à justificação industrial, onde a aritmética aplicada na correcção das provas transmite a sensação de rigor.
Os blogues são frequentemente referidos como a ferramenta adequada ao suporte de uma avaliação baseada em portefólios digitais (Gomes, 2006:299).

 

Written by José Neto. Powered by Novos Templates para o Blogger