Blogues no Ensino Secundário

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No Portal das Escolas é referenciada a utilização de blogues na disciplina opcional Francês, como estratégia de motivação para metade da turma que preferiria o Latim ou o Alemão. A professora criou um blogue onde lançava os desafios à turma, e cada aluno respondia num blogue autónomo criado especificamente para as tarefas de Francês. A estratégia de exigir que cada aluno se responsabilize pela actualização do seu blogue é importante para facilitar a avaliação, que é uma área particularmente sensível no Secundário. A experiência excedeu as expectativas da docente, uma vez que “por iniciativa própria produziram e editaram imensos textos, colocaram imagens e vídeos em número elevado, que foi aumentando significativamente do primeiro para o segundo ano do projecto, quer em quantidade, quer em qualidade, fomentando a criatividade dos indivíduos pois os blogues exigem a construção de materiais que cativem os potenciais leitores. Os dados da avaliação, francamente positiva, que os alunos fazem desta estratégia reforça a ideia que se pode considerar o blogue muito útil na aprendizagem da língua francesa, contribuindo para o desenvolvimento da competência de expressão escrita e para o enriquecimento lexical e cultural. O blogue contribuiu para que os alunos aprendessem Francês e para que desenvolvessem uma atitude crítica e reflexiva. Em termos humanos possibilitou uma maior interacção dos alunos da turma que sentiam prazer em partilhar ideias, em interagirem uns com os outros e em trabalharem colaborativamente, contribuindo para a sua socialização, características essenciais para o sucesso da aprendizagem” (MAGALHÃES, 2008:224), apresenta na sua conclusão predominantemente os ingredientes da justificação doméstica, sem descorar a justificação industrial: a aprendizagem do Francês!
Outras experiências de utilização de blogues no Ensino Secundário poderão encontrar-se procurando estudos no Repositório Científico de Acesso Aberto, que podem generalizar-se com algumas precauções.
Desenvolvendo a justificação doméstica, podemos afirmar que nos ramos menos prestigiados do secundário, quando a função de avaliação perde importância, como nos cursos profissionais[1] - Matemática (Ribeiro, 2009) e Português (Moreira, 2006) - e nas Novas Oportunidades[2] – (Pereira,2010) e (Viudes y Reyes, 2010) - é mais fácil encontrar experiências com blogues.
No caso de alunos com Necessidades Educativas Especiais os professores também são mais condescendentes. Maia (2010) afirma que os blogues promovem a interacção entre as suas famílias e que tendem a estar associados à construção de uma relação mais próxima entre a família e a escola.
Na Escola Secundária Francisco da Holanda (Fonseca e Gomes, 2007) aplicaram um questionário aos docentes de ciências (Biologia e Geologia) e apresentam alguns resultados interessantes, que foram reescritos, como forma de tentar aceder às experiências da blogosfera escolar na via ensino, testando a utilidade da revisão proposta ao Conectivismo:
1 – Confirma-se o blogue como prolongamento virtual da privacidade da sala de aula, embora teoricamente sejam públicos:
- As escolas não incluem geralmente na sua página institucional links para os blogues dos docentes ou de alunos nas suas páginas oficiais;
- A interacção na blogosfera escolar é feita essencialmente entre os elementos de uma mesma escola, e mais especificamente entre elementos da mesma turma; a participação de pais e encarregados de educação nos blogues, através do sistema de comentários nunca se verifica.
Este ponto é melhor compreendido depois de termos sugerido a limitação do crescimento das redes pelo calor comunitário, (justificação doméstica) incompreensível na perspectiva de Siemens.
2 – Confirma-se a justificação industrial para a não utilização de blogues:
- Os meios informáticos disponíveis na sala de aula encontram-se longe do ideal;
- Os programas curriculares das disciplinas são extensos, dificultando a utilização de blogues;
- A actividade de um blogue escolar tem que ser planificada, e é importantíssimo que no decurso das tarefas seja dado feedback aos alunos. Apenas é possível manter o seu empenho com a leitura sistemática e a apreciação crítica regular do professor, portanto este trabalho não é realizável em turmas numerosas.
2.1 – A numeração como 2.1 em vez de 3 destina-se a sugerir que estes tópicos poderiam ser integrados no ponto 2, mas encontra-se vantagem em sublinhar que fazer blogues dá mais trabalho que não fazer:
- Os professores que estão a utilizar blogues são auto-didactas no que se refere aos mesmos, apesar de alguns deles terem formação especializada na área das TIC;
- Como causas da baixa utilização dos blogues nas actividades escolares por parte dos professores podem apontar-se: (1) o desconhecimento das potencialidades da exploração dos blogues no ensino; e (2) a falta de disponibilidade e/ou o acréscimo de trabalho que a manutenção do blogue exige ao professor;
- Fazer blogues também dá mais trabalho aos estudantes que a participação oral frequentemente requerida. Quanto aos alunos devemos distinguir os que tem acesso à Internet em casa dos que não têm. Estes apresentam inicialmente maiores dificuldades, mas se forem interessados acabam por colocar Internet em casa e atingir rapidamente a proficiência dos primeiros. Quanto a alunos preguiçosos os blogues não são estratégia, pois dão bastante mais trabalho que ouvir uma aula magistral, pelo que devemos contar com a sua resistência.
Até aqui tínhamos associado fundamentalmente a justificação industrial aos exames finais, mas os resultados deste questionário sugerem que a mesma lógica explicará outros factores: a insuficiência de computadores nas escolas; os programas curriculares extensos; a actividade não é realizável em turmas numerosas…. porque fazer blogues dá mais trabalho!


[1] Os alunos mais fracos são frequentemente encaminhados, ou eles próprios escolhem estes cursos, que não têm exames nacionais.
[2] Presume-se que as pessoas já têm competências que a escola não lhes reconheceu, e cabe aos formadores – também é interdita a expressão professores - organizarem o ensino de modo a que o adulto revele as competências que se encontram ocultas em si.

 

Written by José Neto. Powered by Novos Templates para o Blogger