Há muito, muito tempo, as escolas usavam giz e ardósias, aparos e pranchetas, cinzel e granito, lápis e esferográficas… Subitamente, apareceu uma nova Tecnologia, o Blogue!
E uma vez, o Ministério da Educação, depois de nomear uma comissão especial e de convidar representantes dos pedagogos e das administrações das Escolas, concluiu que nem era preciso gastar um Euro para os adquirir, e muitos alunos e professores mais ousados até já os utilizavam! Mas era urgente terminar com o caos e definir uma Iniciativa Especial para os Blogues... Esta é a história dessa iniciativa em duas escolas.
Escola A
Abriu um novo Centro de Estudos em Blogues e Conectivismo no meio de grande publicidade e colocou lá todos os computadores com os quais era possível aceder aos Blogues. Nomearam um Professor Encarregado dos Blogues.
Estavam preocupados que alguém utilizasse indevidamente esses raros e valiosos Blogues e colocaram grades nas janelas.
Cartazes e sinais com "Centro Especial dos Blogues" foram pintados nas paredes para informar o mundo de que estavam orgulhosos dos seus Blogues e de que os seus Blogues eram especiais.
Nenhum professor estava autorizado a utilizar os blogues a não ser que frequentasse um curso de Estudos em Blogues – treino especial era exigido para manusear essas novas ferramentas do processo de ensino-aprendizagem: os professores necessitavam de entender conceitos de post, título, corpo, etiqueta, link, imagem, vídeo, rascunho, design, tag cloud, html, layout e muitas outras coisas estranhas.
Estudos em Blogues foram introduzidos como um curso para todos os alunos de 8 anos – estudaram Aplicações dos Blogues, Blogues no Desenho, Blogues na Escrita, Implicações Sociais dos Blogues, Design Instruccional dos Blogues, História dos Blogues e Tendências Futuras em Blogues.
10 bolsas de estudo em Blogues foram oferecidas a alunos do ensino primário locais para atrair os melhores e mais inteligentes.
Um dia o professor de Cidadania ouviu falar desses novos Blogues e pensou que podiam ser úteis nas aulas de Cidadania mas o professor de Estudos em Blogues explicou que todos os blogues eram sempre utilizados em aulas de Estudos em Blogues, e de qualquer maneira, precisava de treino específico para usar um Blogue.
O Professor de Estudos em Blogues concordou em dar algumas lições sobre o uso dos Blogues na Cidadania como parte de um Curso de Sensibilização aos Blogues, apesar de não saber nada acerca de Cidadania.
"Não seria melhor se tivéssemos os nossos próprios blogues no Departamento de Cidadania "? perguntou o Professor de Cidadania . "NÃO, NÃO, NÃO! Não seja parvo!" contrapôs o professor Encarregado dos Blogues.
O mesmo para o professor de "Economia": "Ouvi dizer que os blogues são bestiais em Economia – os alunos podem aceder a documentos e dados de organismos internacionais, construir os gráficos que lhes interessam no Excel, levar as imagens para os blogues, escrever lá os respectivos comentários, e fazer links para as fontes! Se é possível fazer isto tudo, porque é que continuamos a utilizar manuais que estão sempre desactualizados?! "
O mesmo para o professor de Português "Podemos usar alguns Blogues – o que é que acha?". "Vou ver o que se pode fazer" – disse o professor Encarregado dos Blogues, "mas é muito difícil pôr mais alguém no curso. E além disso, todos os nossos professores especialistas em Blogues estão extraordinariamente ocupados".
O mesmo se passava com os professores de Inglês, Filosofia, Contabilidade, Literatura, História…
O mesmo se passava com os professores de Música, Expressão Dramática, Ciências, Biblioteca.
A procura de Cursos em Blogues tornou-se tão grande que a escola A teve de construir novos edifícios para acomodar mais Laboratórios de Blogues e contratou mais Professores de Blogues.
Entretanto, de volta à sala de Cidadania, Economia, Português ou qualquer outra disciplina, o lápis e as esferográficas, bem como o giz indicam o "estado-da-arte" em que trabalham quotidianamente.
5 anos depois a escola A tem 5 Laboratórios de Blogues, integrados num moderno Centro de Recursos, 4 professores especialistas em Blogues e metade dos seus estudantes a tirar Cursos em Blogues. Contudo, mais ninguém na escola alguma vez usou Blogues.
Escola B
A escola B também começou numa sala especial mas tinha um Plano.
O plano consistia em "Blogues em todas as áreas curriculares".
Era um plano ousado, corajoso, um plano difícil – mas um bom plano!
Foi estimulada a banalização dos Blogues pelos alunos e professores, colocando todas as salas de aula com acesso à Internet. Todos os alunos começaram a utilizar portátil, usufruindo da ligação wireless oferecida pela escola, e descobriram que gravando os documentos em blogues, eles ficavam mais seguros e mais acessíveis que nos antigos dossiers de papel.
Os Blogues eram uma tecnologia tão simples que a aprendiam nos tempos de lazer, sem necessidade de contratarem professores para tirarem Cursos em Blogues!
Até colocaram alguns computadores na Biblioteca, na Sala de Professores, na Sala de Convívio e na Sala de Estudo para qualquer um usar a Internet e aceder à blogosfera, mesmo sem ter qualquer treino!
"O quê? Qualquer um?" "Que problema!" "Quem é que os reiniciará?"
"Quem é que irá perceber todos aqueles termos – http://, pt.wikipedia.org, europa.eu?"
"E com que qualidade?" (se permitem Blogues made in Blogger qualquer um pode acabar por ter um Blogue!)
"E então a correcção – quem substituirá as borrachas?" "Quem é que irá corrigir os erros ortográficos e os outros pontapés na gramática?" "E os problemas de compatibilidade? – porque é que os blogues raramente apresentam o texto justificado à esquerda e à direita?" "Quem é que decidirá as cores dos Blogues?"
Sim, houve alguns problemas iniciais mas de qualquer forma as pessoas foram ultrapassando-os. Passado algum tempo começaram a perceber que os Blogues eram bastante fáceis de utilizar, até para professores!
Alguns Blogues foram inseridos em áreas temáticas específicas para os professores as experimentarem. Alguns professores ficaram tão impressionados que até abriram os seus próprios Blogues e questionavam-se como é que podiam ter passado tanto tempo sem um.
Havia ainda alguns problemas grandes para ultrapassar até se chegar à utilização dos Blogues nas salas de aula. Surgiram problemas de design instrucional que os professores não tinham enfrentado antes. Seria necessário que cada aluno tivesse o seu próprio Blogue ou poderiam partilhar e trabalhar em grupos? Seriam co-autores de blogues de grupo ou postariam todos no blogue da Turma?
No início, só alguns professores utilizavam Blogues nas suas lições mas à medida que o tempo passava mais professores viam o fantástico trabalho feito pelos alunos dos professores que usavam Blogues e começaram também a exigir que as suas salas ficassem ligadas à Internet, o que rapidamente se alargou a toda a escola.
Cinco anos depois a escola já não precisava do seu Laboratório de Blogues excepto para alguns alunos que queriam estudar Ciências de Blogues na Universidade ou que queriam trabalhar para servidores de blogues, como o Blogger ou o Wordpress. Haviam computadores por toda a escola e a maioria da equipa e dos alunos utilizavam-nos muito naturalmente, mas os portáteis foram-se tornando uma opção cada vez mais comum. De qualquer maneira, os blogues tornaram-se um elemento central do ambiente personalizado de aprendizagem da tanto de professores como de alunos, fortalecendo os laços no seio da comunidade escolar e facilitando a relação da escola com os encarregados de educação.
E o que aconteceu a todos os professores especialistas em Blogues? Tudo bem, estavam numa boa porque não tinham ficado quietos. Tinham estado a aprender sobre o 2nd Life!
Inspirado em “O lápis em todas as áreas curriculares”, uma ideia original de Alan Kay.